domingo, 10 de fevereiro de 2008

Uma não carta


(...)

Quantas horas tenho passado em convívio secreto com a ideia de si! Temo-nos amado tanto, dentro dos meus sonhos! Mas mesmo aí, eu lho juro, nunca me sonhei possuindo-a. Sou um delicado e um casto mesmo nos meus sonhos. Respeito até a ideia de uma mulher bela.


Eu não saberia nunca como ajeitar a minha alma a levar o meu corpo a possuir o seu. Dentro de mim, mesmo ao pensar nisso tropeço em obstáculos que não vejo, enredo-me em teias que não sei o que são. Que muito mais me aconteceria se quisesse possuí-la realmente?

Que eu - repito-lho - era incapaz de o tentar fazer. Nem sequer me ajeito a sonhar-me fazendo-o.


São estas, minha Senhora, as palavras que tenho a escrever à margem da significação do seu olhar involuntariamente interrogativo. É neste livro que, primeiro, lerá esta carta para si. Se não souber que é para si, resignar-me-ei que assim seja. Escrevo mais para me entreter do que para lhe dizer qualquer coisa. Só as cartas comerciais são dirigidas. Todas as outras devem, pelo menos para o homem superior, ser apenas dele para si próprio.

Nada mais tenho a dizer-lhe. Creia que a admiro tanto quanto posso. Ser-me-ia agradável que pensasse em mim às vezes.

Pessoa



...a indelicadeza e tudo o que não é casto teimam em reinar numa carta que ainda nem está escrita...


9 comentários:

Anónimo disse...

pois eu que conheço a história do amor de pessoa pela sua 'felinha', com todo o amor que lhe tenho, não é uma história de amor que me apaixone, as grandes epopeias amorosis não me apaixonam, as cartas inacabadas e não entregues não me apaixonam, os 'ses' não me apaixonam.
a mim apaixona-me a carta lida e relida, os olhares transfigurados em toques e palavras, a serenidade do repouso após o coito, a tempestade revolta e imponente perante a ausência, partida ou perda... enfim, a vivência espiritual da coisa transmutada na vivência carnal, pois assim somos nós, Um, nesta dualidade. o que fica só para um dos lados, não fica em lado nenhum vivido e isso só leva a que a balança que nos rege, esteja sempre em desiquilibrio.
(são dez da manhã, tu sonhaste com quê nonsense?)

nonsense disse...

cassamia: justamente, concordo contigo...o meu post consistia numa contraposição à carta de Pessoa.Ele que não em leve a mal...

Eu sonhei, entre outras coisas banalíssimas, com gatos, um deles agarrou-se ao meu braço a mordê-lo e não o largava!

Rato disse...

Eu já tinha avisado que o Pessoa, era homem. Interessava-se por política. Frequentava o Martinho. E já naquele tempo a Baixa era a Baixa, gajas é coisa que por ali não falta, até a ophélia por lá andava!
gato? não seria o LOBOmau?

nonsense disse...

rato, achas que se ele não fosse tão platónico teria escrito tanta coisa???? eeheheheh

Era um gato possesso!!!!! ;)

BOLG disse...

I wonder.
How many Pessoas are hidding away
on a 160 character display!

On a 50 word post.
On a two page at the most.

Some comment for fun.
Me, i'm not the one
who will take the pleasure
out of a day, hidding from the sun,
and be a trolling SOB
all over your BLOG!

Next week: French...

nonsense disse...

Eu tenho probas que estibesti a essa horas escondidu do soli a comentar as minhas nonsadas::::anda, anda cu francês a ber se não te respondo!!Julgas q tenho medu???? Ora anda! :)-

BOLG disse...

Grasshopper:
The infinite power of the Praying Mantiss is in it's patience.

African Queen disse...

Linda, o Pessoa consegue fazer magia com as palavras... mas esta coisa do amor sem paixão, sem desejo, sem arrebatamento arruma comigo. A Ophelinha, coitada, deve ter apanhado umas valentes secas :)

nonsense disse...

Queen:arruma comigo também!