quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Será?


Para matar um grande amor

Muito se louvou a arte do encontro, mas poucos louvaram a arte do adeus. No entanto, não há gesto tão profundamente humano quanto uma despedida. É aquele momento em que renunciamos não apenas à pessoa amada, mas a nós mesmos, ao mundo, ao universo inteiro. O amor relativiza; a renúncia absolutiza. E não há sentimento mais absoluto do que a solidão em que somos lançados após o derradeiro abraço, o último e desesperado entrelaçar de mãos. Arrisco mesmo a dizer: só os amores verdadeiros se acabam. Os que sobrevivem, incrustados no hábito de se amar, podem durar uma vida inteira e podem até ser chamados de amor mas nunca foram ou serão um amor verdadeiro. Falta-lhes exactamente o Dom da finitude, abrupta e intempestiva. Qualidade só encontrável nos amores que infundem medo e temor de destruição. Não se vive o amor; sofre-se o amor. Sofre-se a ansiedade de não poder retê-lo, porque nossas cordas afectivas são muito frágeis para mantê-lo retido e domesticado como um animal de estimação. Ele é xucro e bravio e nos despedaça a cada embate e por fim se extingue e nos extingue com ele. Aponta numa única direção: o rompimento. Pois só conseguiremos suportá-lo se ocultarmos de nossos sentidos o objecto dessa desvairada paixão. Mas não se pense que esse é um gesto de covardia. O grande amor exige isso. O rompimento é sua parte complementar. Uma maneira astuciosa de suspender a tragédia, ditada pelo instinto de sobrevivência de cada um dos amantes. Morrer um pouco para se continuar vivendo. E poder usufruir daquele momento mágico, embebido de ternura, em que a voz falseia, as mãos se abandonam e cada qual vê o outro se afastar como se através de uma cortina líquida ou de um vitral embaçado.Há todo um imaginário sobre os adeuses e as separações, construído pela literatura e pelo cinema. O cenário pode ser uma estação de trem, um aeroporto (remember Casablanca), um entroncamento rodoviário. Pode ser uma praça ou uma praia deserta. Falésias ou ruínas de uma cidade perdida. Pode estar garoando ou nevando, mas vento é imprescindível. As nuvens devem revolutear no horizonte, como a sugerir a volubilidade do destino. Os cabelos da amada, longos e escuros, fustigam de leve seus lábios entreabertos. Há sutis crispações, um discreto arfar de seios. E os olhos, ah!, os olhos... A visão é o último e o mais frágil dos sentidos que ainda nos une ao que acabamos de perder.Uma grande dor, uma solidão cósmica, um imenso sentimento de desterro. Que se curam algum tempo depois com um amor vulgar, desses feitos para durar uma vida inteira...


Jamil Snege

7 comentários:

Pedro Sousa Silva disse...

Para matar um grande amor em dois passos:
1. Dá-se-lhe uma paulada mesmo no meio dos cornos
2. Vira-se as costas e deixámo-lo agoniar, lentamente, sem nunca olhar para trás.
Um dia passamos por lá de novo, por acaso, e pensamos "olha, já cá não está...".

A técnica da paulada:
obs. na técnica da paulada, é importante não se ultrapassarem as 5 palavras e não se usarem metáforas.

a) "Adeus."
b) "Se é assim, adeus."c) "Tem uma boa vida."
d) "Vai à merda."
e) "Vai apanhar no cú."

Caso o amor estrebuche no chão de um modo absolutamente insuportável, usar os seguintes recursos:
a) Ouve lá, ó meu cabrão, fodes ou sais de cima?
b) Ó meu filho da puta, mas eu sou o quê? O bar da esquina onde tu entras e sais a teu bel prazer quando a tua vidinha te faz sentir vazio?
c) Ouve lá, és um homem ou um rato? Acho que nem uma coisa nem outra pois os homens assumem as consequências das suas decisões e os ratos, esses, fodem quando lhes apetece e porque lhes apetece.
d) Deixa-me em paz senão esta correspondência vai em fw para a tua vidinha.

Anónimo disse...

FODASSSS!!!!
(desculpa o mau português)não é que não concorde. pelo contrário, subscrevo, pois sou daqueles seres afortunados que conheceram na vida o Amor ( e olha que estou a utilizar maíusculas) mas o Adeus só tem uma única cara, que é Adeus.
tudo o resto que vem depois de a palavra ser proferida dura para sempre mas com menor intensidade à medida em que vamos perdendo a audição...
e mais te digo nonsense, Adeus diz-se aos que amamos e nos morrem. aos outros, os que amamos e apenas tomam outro caminho, não podemos nunca dizer Adeus, porque os caminhos cruzam-se constantemente..
cassamia

(também concordo com o comentário anterior, mas numa outra fase, naquela em que primeiro ficamos mesmo verdadeiramente Fodidas...)

Igor disse...

Casablanca...
O Amor é Casablanca...
"Play it again, Sam."

nonsense disse...

IT'S STILL THE SAME OLD STORY...as time goes by...

Escolho a 1. e a a) mas tb concordo com a maria porque THE WORLD WILL ALWAYS WELCOME LOVERS...as time goes by....................................................................

Rato disse...

vodka (com gelo) que sem o dito a coisa é intragável só mesmo lá com 20 negativos se pode suportar,o Rato agradece-te a clarividência das tuas afirmações. só não percebo a mistura de homes com Ratos, podias ter escolhido um 'anormal' qualquer!
francamente!!
é que todos os pássaros comem o trigo, mas o agricultor só acusa o meu primo Pardal!!!!

nonsense disse...

rato: ahahahhahah

Rato disse...

divertida!!!!!